quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Coisas que eu deveria jogar fora, mas não consigo...

Hoje parei pra pensar em tudo o que eu não preciso ter, mas tenho, guardado.
Pensei no Billy, meu ursinho de pelúcia. Pensei nas minhas camisetas de bandas. Pensei nos papéis de carta, que eu sei que nunca vou usar mas estão guardadas em uma caixa em cima do guarda roupas, o que me levou a lembrar do meu caderno do terceiro ano do ensino médio com todas aquelas figurinhas adesivas que ainda tenho guardado na mesma caixa há sete anos. Todas essas coisas são coisas que eu sequer lembro que existem em meu dia a dia, exceto o Billy que fica em cima da cama, mas algo me impede de deixa-las ir.
Sobre coisas que eu não deixo ir, nem todas são materiais, acho que, como a grande maioria, tenho sentimentos enraizados que deveriam ser dispersados, mas não são e eu não ando fazendo muita força para que eles voem se libertem e me liberte. Não é ódio, não é rancor, não é inveja, não são sentimentos considerados ruins. São sentimentos que já foram bons, me fizeram bem, mas quando deixaram de ser correspondidos, não sabiam como agir. Eu desaprendi a lidar com eles, e eles a como se comportar dentro de mim.
Pensei em tentar transferi-los para um dos meus papéis de carta e dar logo um fim a tudo isso. Mas lembrei que sentimentos não saem de você e aderem ao papel como tinta de caneta. 
Enquanto isso, deixo tudo guardado aqui, não vai virar item de colecionador mas enquanto eu finjo que não existem não me proporcionam dor.


sexta-feira, 1 de agosto de 2014

78. A morte é...


...Algo que ainda não aprendi a lidar.
Quando criança vi acidentalmente duas pessoas mortas. A primeira foi meu vizinho Zuca, a minha mãe fez de tudo para impedir que eu visse aquela cena, eu simplesmente fiquei parada olhando o rosto sereno dele deitado no sofá. Eu não entendia o motivo pelo qual as pessoas estavam chorando por alguém que estava dormindo. Minha vó me disse que Zuca estava morto, entraria em uma caixa e não voltaria mais pra casa, não ia mais me ensinar a tocar violão. Eu não gostei do fato de alguém não voltar mais pra casa, mas... Poxa, tudo bem. Muita gente muda de casa. Perguntei a vovó o que vem depois da morte, e ela disse que era algo que ninguém sabia ao certo. Então, durante alguns dias, semanas talvez, eu fiquei esperando Zuca voltar, quando minha mãe percebeu que eu ficava olhando a casa dele pela janela, me pegou no colo e disse que ele não voltaria, e eu decidi, sem falar pra ela, que imaginaria que ele estava lá dentro da casa dele, dormindo.
No segundo caso foi um moço deitado no chão da nossa rua e eu pensei: “Outro moço que vai pra uma caixa, e não vai mais poder ver a família”. Mas eu já estava crescidinha, e minha mãe decidiu que precisava me explicar melhor. Ela pediu que eu começasse a respirar lentamente, como se perdesse o ar, e depois prendesse a respiração o tempo que eu aguentasse. O que não foi muito tempo. Quando comecei a respirar novamente ela me disse que era isso o que acontecia com as pessoas mortas, elas perdiam a capacidade de respirar, o coração parava, elas deixavam de existir no mundo e passam existir só pra quem as conheceu. Demorou até que eu absorvesse essa ideia. Continuei achando que alguém viria, e colocaria o moço em um lugar mais confortável pra que ele pudesse dormir em paz.
Anos mais tarde, aconteceu com alguém que prometeu que jamais me abandonaria. Esse alguém eu não vi. Quando esse alguém partiu, fazia seis meses que eu não a via. Não fui sequer ao velório. Nunca mais voltei a sua casa. Só pra poder ter a sensação de que ela vai estar lá na varanda me esperando, assim como foi da última vez, não importa quanto tempo eu demore pra voltar. E enquanto isso? Ela dormirá.